Por Omar Monteiro Mendes
No Brasil, jornalista que faz Assessoria de Imprensa é considerado jornalista. Faz parte de uma tradição brasileira, com apoio dos sindicatos e dos profissionais atuantes nos meios de comunicação. Ao assumir a AI como jornalismo, é possível apresentar um trabalho comprometido com o interesse público, ao menos nas instâncias filosóficas e da deontologia da profissão. O “Código de Ética” expressa quais devem ser as preocupações dos jornalistas, trabalhando em redações ou em assessorias.
Conjunções históricas foram responsáveis por este quadro de legitimação do jornalista como profissional adequado para o exercício da A.I. no Brasil. Em 1909, o Presidente Nilo Peçanha criou a “Secção de publicações e bibliotheca do ministério da agricultura", que tinha como uma de suas finalidade distribuir informações à imprensa sobre o setor, através de notas e notícias. Esta foi a primeira iniciativa com características assemelhadas à “Assessoria de Imprensa” no Brasil. No dia 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas, durante o período ditatorial do Estado Novo, criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), encarregado do controle ideológico dos meios de comunicação. Também foi Getúlio Vargas, através do Decreto nº 5.480, em 1943, o responsável pela instituição do curso superior de Jornalismo, fundamental para uma melhor configuração da atividade profissional, isso em plena ditadura.
Em outubro de 1969, em plena ditadura, foi instituída a regulamentação do exercício da profissão de jornalista, através do Decreto-lei nº. 972. A legislação destinava-se muito mais a um controle do que propriamente a uma solução para atender a uma demanda de profissionais da área. A obrigatoriedade de diploma instituiu, ainda que de maneira pouco democrática, um melhor nível e noção de classe entre os trabalhadores.
Com o “ressurgimento” da democracia são cunhadas legislações que são o prenúncio daquilo que conhecemos como “direitos do consumidor”, e numa busca cada vez maior de credibilidade, as empresas tratam de utilizar a comunicação como um diferencial competitivo, assumem parcialmente o seu papel de agente social. Aalguns conceitos como “Empresa cidadã” e de "Responsabilidade ambiental" são fixados como uma possibilidade de acumular valores no imaginário da população.
Dos Anos 80 até hoje, o uso da informação e o estabelecimento de relacionamentos adequados com a imprensa e outros setores da sociedade passaram a ser estratégicos para as organizações empresariais. Este fenômeno é paralelo ao outro, que é o de enxugamento das redações devido à grande recessão em que o país estava imerso, o que causou uma crise de empregabilidade. Estes profissionais buscaram novas colocações e foi natural que as empresas aproveitassem essa mão de obra experiente. Com novas funções, novos mercados, salários maiores, novos conhecimentos e um novo papel social tão digno, útil e ético para os meios de comunicação e para a sociedade, foi implantada uma nova e legítima área de atuação para o jornalista.
O bom trânsito entre seus pares e a familiaridade do jornalista com a linguagem dos meios de comunicação impressos e eletrônicos faz desse profissional o mais qualificado para os trabalhos nas assessorias que surgiam. Eles possuíam um diferencial competitivo em relação a outras áreas que comumente atuavam no “nicho de mercado”, especialmente os Relações Públicas.
É desejável que um assessor de imprensa seja um jornalista e tenha passado por grandes redações, mas não imprescindível. A disputa ideológica é complexa e inconclusiva, envolve questões como objetividade, parcialidade, entre outras tantas. Os sindicatos ligados à categoria não fazem quaisquer objeções ou menções de incompatibilidade. Não existe um preconceito direcionado ao Assessor de Imprensa, ocasionalmente ocorrem restrições contra assessorias que não cumprem aquilo que é tido como seu papel, o que é natural em qualquer exercício.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
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3 comentários:
Marcelo:
Gostei. Há algum tempo eu procurava informação a respeito. Estou preparando um livro sobre os 100 anos da Imprensa em Rondônia e peço autorização para inserir uma parte do material, a que trata da primeira assessoria no governo Nilo Peçanha e o DIP.
Ficarei muito honrado com sua autorização.
Grato
Lúcio Albuquerque
jlucioalbuquerque@gmail.com
Olá,
gostei muito do seu texto porque tem todas as informações de que preciso. Estou fazendo um estudo sobre esse tema e o produto final dele é uam exposição de releases e outros materiais de assessoria d eimprensa juntamente com um cilco de palestras sobre o assunto.
Gostaria de saber se você pode me ajudar na concepção deste trabalho
Grata
Jana Ramiro
janainaramiro@limao.com.br
Olá!
É muito bom encontrar referências acerca desta temática que, em Portugal são escassas. No entanto, gostava de perguntar se não me conseguem indicar algumas referências acerca da história da Assessoria a nível internacional.
Estou a formular um manual desta temática e estou com algumas lacunas neste ponto.
Salete Vieira
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